domingo, 29 de junho de 2008

A Estação e O Garoto

Um garoto, com roupas enfadadas, procura o esconderijo perfeito.
Em um salão grande, ele se sente só. Se sente confortável.
Circula pela sala empoeirada e vai para parte externa.
Numa estação de trem, com trilhos enferrujados, abandonada.
Num final de tarde, de sol dourado, perseguido por uma grande plantação de trigo.
O garoto, de botas gastas e pernas curtas, senta em um dos bancos que ainda resistem.
Faz esforço para alcançá-lo, mas consegue sentar-se, balançando as pernas.
Olha diretamente para o céu, depois volta o seu olhar para os trilhos.
Idealiza sobre pessoas que outrora embarcaram e desembarcaram nessa estação:
Mulheres elegantes e sofisticadas. Homens sofistas, com cigarros e vinhos à tira-colo.
Sorrisos exibidos. Para esconder o fervor do sangue.
Olha, pelos buracos no teto de madeira, que o céu azul começa a tomar um tom mais escuro.

A noite já cai, e o garoto custa em sair dali.
Deita dentro de um vagão enferrujado, e sonha em se tornar o rei dali.
Pensa na família que escolheu não ter. Nas brincadeiras que preferiu não fazer.
Sente o peso da responsabilidade, da liberdade. A angústia de se tornar só.

No dia seguinte amanhace com gosto de sangue na boca.
Se levanta e sai caminhando, chutando as pedras pelo caminho.
Pensa em solidão, em outras vidas. Em como ter tudo se resume à nada.

Levanta a cabeça, enxugando os olhos.
E, como se ainda existissem os trens.
Se joga sobre o trilho. Imaginando, mais uma vez.

Não sem antes sorrir.

Um comentário:

DaNi disse...

É possível imaginar cada cena, como ge fosse possível seguir o menino.
"Sente o peso da responsabilidade, da liberdade. A angústia de se tornar só."
Jornalista, jornalista... já dá pra sentir esse peso daí na nossa caminhada, mesmo sendo tão nova.
A felicidade vem quando outros entram em contato com nossos textos e se emcionam com nossas palavras!=)
=***